quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Má confissão


Conta Santo Afonso, um fato acontecido na Inglaterra, quando ali dominava a religião católica. O rei Anguberto tinha uma filha que, por sua beleza, fora pedida em casamento por muitos príncipes. Mas a princesa recusou terminantemente, pois fizera voto de castidade. O pai pediu para ela dispensa em Roma, mas a filha ficou firme no propósito de não se casar, dizendo que não queria outro esposo senão Jesus Cristo; e ao mesmo tempo pedia ao pai a permissão de viver afastada do mundo.

O pai, que a estimava muito, condescendeu, dando-lhe uma casa e corte convenientes. Começou então uma vida santa de oração, jejum e penitências; frequentava os sacramentos e muitas vezes ia prestar serviços aos doentes de um hospital vizinho. Nesse teor de vida morreu, apesar dos seus verdes anos.

Certa vez uma senhora, que tinha sido sua criada, ouviu durante a oração da noite, um rumor estranho, e depois viu aparecer subitamente uma alma em figura de mulher, no meio do fogo e acorrentada entre muitos demônios, que se apresentou assim:

- Eu sou a infeliz filha de Anguberto.
- Como?! Perguntou assustada a criada, vós, condenada após uma vida tão santa?

Replicou a alma:

- Fui justamente condenada por minha culpa. Sendo ainda criança, tive a desgraça de cair num pecado desonesto. Fui confessar-me, mas a vergonha fechou-me a boca e em vez de revelar candidamente o meu pecado, eu o cobri de jeito que o confessor nada compreendeu, e cometi um sacrilégio. Depois, comecei a fazer penitências, a dar esmolas, para que Deus me perdoasse, mas sem confissão. Na hora da morte disse ao confessor que eu tinha sido uma grande pecadora. O padre, ignorando o meu estado, respondeu-me que devia repelir esse pensamento como uma tentação. Logo depois expirei e fui condenada, para sempre, às chamas do inferno.

E dizendo isto, desapareceu, mas com tanto estrépito que parecia derrubar a casa, e deixando no quarto um mau cheiro insuportável, que durou por muitos dias.


fonte: trecho retirado do livro O inferno existe - Padre André Beltrami por Jefferson Roger

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