Ontem, dia 14/06/2016, enquanto caminhava eu de volta para casa retornando do trabalho, me deparei com uma cena que chamava a atenção dos moradores locais. Uma ambulância do SAMU com o alerta ligado indicava que algo não ia bem naquela casa. O que comprovava a impressão sobre o cenário era uma mulher que chorava e se lamuriava sem cessar. E seu pranto tinha o inconfundível som de um choro de dor, uma dor que está na alma, no coração. Familiares tentavam consola-la e a vizinhança acompanhava de perto, mais em tom de curiosidade, de vamos ver no que vai dar, do que em atitude de solidariedade e conforto. É sempre assim. Basta um acidente de trânsito e como num passe de mágica o local enche de pessoas que não se sabe de onde, aparecem para ocupar a primeira fila da arquibancada. Querem ver de perto aquilo que não querem ver acontecendo consigo. Eu parei por uns instantes minha caminhada para casa não por causa da ambulância ou por causa dos curiosos, mas por causa daquele choro que era inconsolável. Um choro que parecia anunciar a eminência de algo inevitável. Mas, como não sou curioso, procurei me compadecer daquelas pessoas, pedi a seus anjos da guarda que os auxiliassem em suas necessidades e fui para casa. Hoje, bem cedinho, fazendo eu o mesmo caminho, mas em sentindo contrário, pois me dirigia ao trabalho, passei pelo mesmo local. O cenário era outro. Mãe em pé ao lado de um pequeno caixão. Pai sentado ao lado do mesmo. Olhares que se perdiam no pensamento e na tristeza. Não havia mais ninguém. A família reunida estava sozinha a velar o corpo do filho na pequena garagem de sua casa. Mãe e Pai se despediam da criança. Eu, mais uma vez me compadeci. Ia para o trabalho recitando meu Rosário e mais que imediatamente coloquei nas minhas intenções aquela família. Sempre peço pelos que estão passando pela experiência do luto. Mas hoje especifiquei a Nossa Senhora, sua especial assistência materna para aquela família. Ela, que ficou aos pés perante a cruz, sabe o que é a dor da perda de um filho. Eu mesmo já não tenho mãe, faleceu a anos, e sou pai de três filhas, duas vivas e uma morta. Já convivi com a dor. Nenhum pai ou mãe espera enterrar um filho. Espera sim, o curso natural e a tendência cronológica do envelhecimento e morte, onde os mais velhos seguem na frente. Mas, nosso Deus, que é o Deus da vida, nos ensina que está acima do tempo e que as coisas acontecem conforme a sua vontade. Esta noite, foi um pouco conturbada. Minha segunda filha, que amanhã completa 7 meses teve uma noite alternada entre acordar e dormir várias vezes. Com esse frio, é sempre um esforço coletivo que mãe e filha fazem na baixa temperatura das madrugadas. E o anúncio feito pelo choro sempre acaba por acordar também o pai. A natureza da coisa acaba empurrando os pais a se lamentarem pelo fato da criança, talvez manhosa, talvez com alguma dorzinha, talvez sem sono mesmo ou qualquer outra coisa, acabe por não deixar que aquela noite de sono comece com um deitar a noite e um levantar no dia seguinte. Mas, dessa vez para mim e minha esposa, o dia seguinte começou e segue, pela graça de Deus, com a presença em nossas vidas de todos os membros de nossa família. Até dos que choraram durante a noite e competem com os mais dedicados vigias noturnos. Mas, para esta família que lhes contei o fato, caros leitores, e para tantas outras pelo mundo afora, o nosso Deus da vida nos mostra que Ele nos concede o hoje, o agora. Não importa quanto tempo temos e sim o que fazemos com o tempo que Deus nos concede. fonte: Jefferson Roger
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