Um dos temas pouco discutidos entre os círculos de pessoas sem dúvida é a morte. Ela é sim acompanhada de perto e ao mesmo tempo de longe. De perto pois estamos sempre vendo e ouvindo nos noticiários a morte de alguém, mas este cotidiano passa pelas nossas vidas sem passar. Quase sempre parece ser a história contada de um filme de ficção. Basta virar a página ou mudar de canal e pronto! O problema está resolvido, até porque o problema é do outro. De longe, pois distantes daquela realidade televisionada ou noticiada que nos chega aos olhos e ouvidos, o que brota dela para nós é algo como os raios do sol, que a milhões de quilômetros da Terra nos faz sentir o calor. Mas sabemos que não é bem assim o que de fato acontece com esse tema. O excesso aos raios solares trazem consequências sérias para nossa saúde. De forma semelhante podemos refletir sobre a morte, dentro da perspectiva deste artigo. Quanto mais distante de nós, menos nos incomoda. Mas, a medida que esta realidade vai se aproximando de nossa vida, os sentimentos vão mudando. As noticias trazem a morte de um conhecido, trazem a morte de um colega, trazem a morte de um amigo, trazem a morte de um parente, trazem a morte de um familiar que conosco vive. E agora? Não é ficção, não estamos mais a assistir ou simplesmente tomar conhecimento do fato. Estamos inseridos no acontecimento: "Alguém que eu amo, faleceu". Não é preciso nos debruçarmos muito sobre esta verdade, esta realidade da morte. Uma realidade de transformação que nos abrirá para a vida eterna, na felicidade e no amor com Deus. Portanto, é preciso morrer. Nosso Salvador morreu por nós e muitos já morreram por Ele, são os mártires. Isto nos faz recordar a cada dia e refletirmos o ensinamento de Deus, que nos concede apenas o hoje. É preciso ter um olhar e atitude de esperança na eternidade e não no futuro. Não devemos aqui confundir o objeto de nossa esperança. O nosso objeto é a eternidade e não o futuro, pois no futuro repousa o desconhecido, onde muitas vezes as pessoas depositam seus projetos de vida. Notemos que não é errado planejar e viver uma vida com um olhar lá na frente, mas este propósito não deve superar a nossa razão de ser: amar a Deus e ao próximo e buscarmos a vida eterna. É para isso que somos predestinados, nos recorda São Paulo em suas cartas. Mas deixemos de lado esse parênteses para falarmos um pouco de um dos companheiros da morte: O LUTO. Do latim LUCTUS que significa DOR, PESAR, AFLIÇÃO e também do latim LUGERE que significa LAMENTAR, SOFRER. O luto portanto é um processo necessário onde todos sem exceção irão passar por ele. Vários estudos comportamentais elencam listas pelas quais a pessoa vai vivenciando durante o processo. São fases comportamentais que se alternam aleatoriamente conforme o estado emocional de cada um e também sua fé, princípios, educação e situação do ocorrido. Sentimentos de negação, sentimentos de raiva, sentimentos de culpa, sentimentos de profunda tristeza, sentimentos de alivio, sentimentos de insegurança, sentimentos de conforto e sentimentos de alegria. Sim, é isso mesmo! Sentimentos de alegria. Dentro do processo de luto somos acometidos por tantos desses sentimentos acima relatados e muitos outros também. Porém, é preciso antes de tudo, seguirmos o exemplo e conselho de Maria, ela que ficou em pé perante a cruz de Jesus. Nossa Senhora em uma de suas aparições revelou que neste momento, sua dor era tão grande que Ela não tinha forças nem para chorar. Após a ascensão de Jesus, Ela foi morar em Éfeso e conta algumas passagens de sua vida onde, tomada por imensa saudade de Seu Filho, recordava os momentos que viveu com Ele. Saudade sim, tristeza não. Se amamos alguém que morre, precisamos ficar irradiantes pois nosso ente querido caminha para junto de Deus. Essa é a nossa fé. Muitas vezes os sentimentos se misturam e o choro, a dor e a tristeza são frutos dessa separação temporária que a morte nos trás. Mas temos fé? Se temos precisamos crer no que Jesus disse: "que viveremos para sempre no reino que Ele nos preparou, como anjos". Nós e todos os nossos parentes. Muitos podem argumentar dizendo que é fácil falar, difícil é viver. Pois bem, posso aqui concluir o artigo compartilhando resumidamente com o leitor minha experiência com a morte e o luto: o falecimento de minha mãe. Éramos uma família de cinco, pai, mãe e três irmãos. Sou o mais velho, hoje com 44 anos (em 15/07/2016). Após três anos de luta contra o câncer ela veio a falecer, em estado físico muito debilitado. Um caso desses na família eu considerei uma bênção de Deus. Sim, uma bênção! Ele nos permitiu com essa doença "ajustarmos" as diferenças familiares e nos prepararmos para receber a vontade de Deus. Com a chegada da morte, aquele corre corre se instalou. Avisar parentes e amigos, ligar para a funerária e por aí vai. Minha mãe faleceu de madrugada, dia 22 de abril de 1995 em casa. Acompanhada por suas irmãs e meu pai. Eu dormia no quarto ao lado. E realmente dormia. Ora como católico que sou, eu sabia que ela estava sendo assistida pelo seu anjo da guarda, seus santos padroeiros, por Nossa Senhora e por Jesus Misericordioso. Então eu podia dormir tranquilo. No entanto quando o momento da morte chegou Acordei de súbito. Escutei minha madrinha chamar o meu pai no outro quarto, pois eles se revezavam com minha mãe no quarto do casal. Ela falou: José, rápido pegue uma vela. José é o nome do meu pai. Escutei o caminhar pela casa e depois um silêncio. Nisso a tv do meu quarto, que estava desligada fez vários raios de luz muito bonitos no seu tubo de imagem, que me lembraram as línguas de fogo de pentecostes. Senti uma paz, senti a despedida da minha mãe e a confirmação de que ela tinha partido. Nesta época eu tinha 24 anos. Momentos depois uma de minhas tias abriu a porta de meu quarto e sem enrolação me disse: "Jefferson, a Bete morreu" E eu respondi: " Eu sei tia, ela veio aqui se despedir de mim." - Eu disse também,está tudo bem tia, tudo bem. Isso deu um conforto para ela e a porta do quarto se fechou. Começou o meu luto. Pensei inicialmente como vai ser agora? Vejam só, eu imediatamente, como filho pensei nas questões práticas de ser um filho sem mãe. Uma família com um membro a menos. Enfim para concluir, não houve tristeza e nem choro de minha parte. Minhas primeiras lágrimas caíram quando no dia de finados do mesmo ano eu fui ao seu túmulo. Chorei e chorei, minha filha, minha esposa e minha sogra estavam comigo. Foi um choro de lamento por não ter minha mãe comigo participando das minhas alegrias e tristezas, minhas conquistas, derrotas e dificuldades da vida. Foi um choro que lavou a alma e o coração. Chorar e se emocionar faz bem. São expressões que nos purificam. Quando negamos essa nossa realidade nos machucamos por dentro e machucamos os outros. Jesus nos ensina a recorrermos à Ele quando nos sentirmos fatigados por conta de nosso fardo, pois Ele tem um fardo leve e um jugo suave. Jesus, que nos prometeu o Espírito Santo Consolador, para nos relembrar as suas verdades e nos ensinar todo o resto, está sempre com o seu coração misericordioso a nos amparar e amar, incessantemente. Peçamos a Ele, que o Espírito Santo nos conceda o dom da fortaleza, lembrando que, fazer aquilo que damos conta e entregarmos o que não damos conta a Deus, é a verdadeira atitude que o dom da fortaleza nos conduz. Que essa graça nos conduza para sermos sal e luz no mundo também para a vida dos nossos irmãos em todos os seus momentos. fonte: Jefferson Roger
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