O Cardeal Walter Brandmüller tem sido uma das principais vozes críticas às propostas circulantes no Sínodo Extraordinário sobre a Família, que aconteceu em 2015, que correm o risco de subverter a doutrina católica sobre os Sacramentos e sobre a moral. Ele foi um dos cinco cardeais a contribuir com o livro Remaining in the Truth of Christ ["Permanecer na Verdade de Cristo"], que condenou a proposta do Cardeal Walter Kasper de liberar a Comunhão àqueles que vivem em uniões sexuais irregulares. Eis um trecho da entrevista concedida pelo pelo Cardeal Brandmüller ao Dr. Maike Hickson, do LifeSiteNews. LifeSiteNews: O senhor poderia apresentar mais uma vez para os nossos leitores, de modo claro, qual o ensinamento da Igreja Católica a respeito do matrimônio e da sua indissolubilidade, como tem sido constantemente ensinado através dos séculos? Cardeal Brandmüller: A resposta pode ser encontrada no Catecismo da Igreja Católica, dos parágrafos 1638 a 1642. "Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado. O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selado pelo próprio Deus. De sua aliança se origina também diante da sociedade uma instituição firmada por uma ordenação divina. A aliança dos esposos é integrada na aliança de Deus com os homens: O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino. O vínculo matrimonial é, pois, estabelecido pelo próprio Deus, de modo que o casamento realizado e consumado entre batizados jamais pode ser dissolvido. Este vínculo que resulta do ato humano livre dos esposos e da consumação do casamento é uma realidade irrevogável e dá origem a uma aliança garantida pela fidelidade de Deus. Não cabe ao poder da Igreja pronunciar-se contra a disposição da sabedoria divina." LifeSiteNews: A Igreja pode admitir à Sagrada Comunhão casais recasados, mesmo que o seu segundo casamento não seja válido aos olhos da Igreja? Cardeal Brandmüller: Isso seria possível se esses casais tomassem a decisão de viver no futuro como irmãos. Essa solução é especialmente válida quando o cuidado pelas crianças não permite uma separação. A decisão por tal caminho seria uma expressão convincente de penitência pelo ato passado e prolongado de adultério. LifeSiteNews: A Igreja pode lidar com o tema do matrimônio de uma maneira pastoral que seja diferente do seu ensino constante? Pode a Igreja por si mesma mudar a sua doutrina sem cair, ela mesma, em heresia? Cardeal Brandmüller: É evidente que a prática pastoral da Igreja não pode permanecer em oposição à sua doutrina imutável, muito menos ignorá-la. Da mesma maneira, um arquiteto poderia, talvez, construir uma ponte maravilhosa. Se não presta atenção às leis da engenharia estrutural, no entanto, ele corre o risco de fazer desmoronar a sua construção. Assim, também, toda prática pastoral, para não falhar, deve seguir a Palavra de Deus. Uma mudança da doutrina ou do dogma é impensável. Quem, porém, conscientemente o pensa, ou insistentemente demanda isso, é um herege – ainda que use a púrpura romana. LifeSiteNews: Toda essa discussão sobre a admissão dos recasados à Santa Eucaristia não é também uma expressão do fato de que muitos católicos não acreditam mais na presença real e, de certa maneira, acham que recebem na Sagrada Comunhão apenas um pedaço de pão? Cardeal Brandmüller: De fato, há uma insolúvel contradição interna em uma pessoa que quer receber o Corpo e Sangue de Cristo e unir-se a Ele, quando, ao mesmo tempo, despreza conscientemente o Seu mandamento. Como isso pode dar certo? São Paulo diz sobre esse problema: "Quem come e bebe indignamente [o Corpo e Sangue do Senhor], come e bebe a própria condenação" (1 Cor 11, 27). Mas, você está certo. Muitos católicos sequer acreditam na presença real de Cristo na hóstia consagrada. Qualquer um pode perceber isso na maneira como muitos – inclusive sacerdotes – passam em frente ao sacrário sem fazer uma genuflexão. LifeSiteNews: Por que existe nos dias de hoje um ataque tão forte, dentro da Igreja, à indissolubilidade do matrimônio? Uma possível resposta poderia ser a de que o espírito de relativismo entrou na Igreja, mas deve haver mais razões. O senhor poderia citar algumas? Não são todas essas razões um sinal da crise de fé dentro da própria Igreja? Cardeal Brandmüller: É evidente, se certos padrões morais, que eram aceitos por todas as pessoas, sempre e em todos os lugares, não são mais reconhecidos, então, cada um faz de si mesmo a sua própria norma moral. Isso tem a consequência de que as pessoas fazem o que agrada a elas. Acrescente-se a isso a abordagem individualista de vida que a reputa como uma chance única para a autorrealização – e não como uma missão do Criador. É evidente que tais atitudes são expressão de uma perda de fé profundamente arraigada. LifeSiteNews: Nesse contexto, é possível afirmar que se falou muito pouco nas últimas décadas sobre a doutrina da queda e do pecado original. A impressão dominante era a de que o homem seria bom em tudo. Na minha visão, isso levou a uma atitude laxa em relação ao pecado. Agora, que nós vemos o resultado dessa atitude de laxismo – uma explosão de condutas desumanas em todas as áreas possíveis da vida humana –, isso não deve ser uma razão para a Igreja ver que a doutrina sobre a queda foi confirmada e para, por conta disso, proclamá-la de novo? Cardeal Brandmüller: De fato, isso é verdade. O tópico "pecado original", com as suas consequências – a necessidade da Redenção através do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo – tem sido largamente suprimido e esquecido há um bom tempo. E, no entanto, não se pode entender o curso do mundo – e da própria vida pessoal – sem essas verdades. É inevitável que essa negligência das verdades essenciais leve a um estilo de vida imoral. Você está certo: deve-se finalmente pregar de novo sobre este tópico, e com claridade. fonte: misericordia.org.br/noticias
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