segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Freira não recua diante da guerra

A irmã Maria de Guadalupe Rodrigo está em missão na Síria desde que a guerra começou. E não tem nenhuma pretensão de sair de lá.

A crise na Síria é uma das mais graves das últimas duas décadas, com milhões de pessoas desabrigadas e mais de 210 mil mortos. "Eu não sabia o que era a guerra", revela à agência Zenit a freira Maria de Guadalupe Rodrigo. "Não é possível imaginar o seu alcance até que a vivamos na pele. É o flagelo mais horroroso que pode sofrer um povo." Vivendo desde 2011 na cidade de Alepo, a mais atingida pelo conflito, essa missionária argentina entrou para a vida religiosa com apenas 18 anos, em uma congregação relativamente nova, o "Instituto do Verbo Encarnado". Ao fazer sua profissão, essa servidora "do Senhor e da Virgem de Matará" (SSVM) — o ramo feminino da comunidade — abandonou o nome de batismo, Jimena, para chamar-se María de Guadalupe. A troca, no entanto, não lhe tirou o sobrenome Rodrigo, herdado de seu avô espanhol.

Tendo partido em missão com 23 anos de idade, Maria de Guadalupe já se instalou em muitos países do Oriente Médio e do norte da África, como Palestina, Egito, Jordânia e Tunísia. Ainda que as condições variem muito de um lugar para o outro, a freira garante que "o cristão sofre perseguição e discriminação em todos esses países". Antes de que explodisse a chamada "Primavera Árabe" e começasse o conflito armado na Síria, porém, ela conta que "a tranquilidade e a paz que se vivia" ali "eram totalmente atípicas para o resto dos países" que ela havia conhecido:

"Se havia algo que não se esperava na Síria era que se conflagrasse uma guerra, tal era o ambiente de tranquilidade e convivência pacífica que se vivia entre cristãos e muçulmanos. Mas, uma vez que esses grupos extremistas irromperam no país, era de esperar-se a entrada do Estado Islâmico. A morte violenta dos entes queridos; o risco cotidiano de morte; o exílio de perder casa, trabalho e futuro; o medo, a fome, o frio e a sede, e tudo somado a uma longa agonia de anos, fazem da guerra o flagelo mais horroroso que um povo possa sofrer."

A olhos humanos, está claro que não existe previsão de melhora. "Ainda que por vezes a Síria deixe de aparecer nas manchetes, a situação é essencialmente a mesma", relata a irmã. "Continuam os enfrentamentos, morrem cristãos todos os dias e o Estado Islâmico está muito longe de ser derrotado." Aos cristãos desarmados e desamparados, o que resta é viver cada dia como se fosse o último. E eles vivem! Intensamente. Perguntada sobre como os sírios que crêem em Cristo vivem a sua fé, a religiosa louva neles "a sabedoria que têm para compreender e aceitar a dor":

"Não culpam a Deus, muito pelo contrário. Ao perder tudo, agarram-se ainda mais a Ele. Um senhor me dizia: 'Nós necessitávamos desta grande prova. Nosso cristianismo estava demasiado distraído com as coisas do mundo'. A fé faz com que eles descubram que Deus sabe tirar bens dos males. É isso o que leva uma jovem que por causa da guerra se aproximou de Deus e da vida paroquial a dizer: 'Vocês não vão acreditar, mas estes anos têm sido os mais felizes da minha vida!'. Pode parecer um disparate... mas, compartilhando a vida com esse povo que está sofrendo atrozmente, o que mais me marcou foi a sua alegria. A gente vê eles sorrirem mais do que antes! E festejar porque chegou a eletricidade (durante uma ou duas horas diárias) ou porque conseguiram tomar banho (a água chega a cada oito dias), agradecendo cada pequeno dom de Deus.

Assim vivem eles, e isso contagia. O contato tão próximo com a morte faz com que a vida tome outro sentido, e que se viva plenamente. Não há tempo para perder, este pode ser meu último dia, como quero vivê-lo? Não é a alegria superficial e vã, mas aquela quase infinita de quem já tem os olhos postos no Céu."


fonte: adaptado de padrepauloricardo.org

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