terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ser pai e ser cristão

Parece ocorrer, no mundo atual, uma crise da paternidade. Cada vez menos homens querem assumir o título de “pai” com todas as obrigações e responsabilidades que isto implica. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo diz: “A ninguém chameis pai” (Mt 23,9), estava obviamente se referindo à necessidade que todos temos de olhar primeiro para Deus, se é que pretendemos compreender o pleno significado da palavra – pois o Criador é a Fonte e a perfeição de toda a paternidade. S. Paulo Apóstolo diz (em Ef 3,14-15): “Dobro os joelhos em Presença do Pai do Céu, ao qual deve a sua existência toda família no Céu e na Terra”.

Se quisermos compreender o que é ser um pai, não devemos e não podemos olhar para o reino animal e nem para as fraquezas humanas. Se quisermos saber o que é ser pai, devemos olhar para Deus, meditar na Paternidade Divina, e assim poderemos vislumbrar um pouco da vocação que os pais têm aqui na Terra. Meditemos: quais os motivos de estarem faltando pais de verdade neste mundo em nossos tempos, e por que o demônio vem demonstrando tanto ódio aos pais e ao seu papel fundamental?

Se existe uma figura que vem sendo atacada, em nossa sociedade, é a do pai. Nem sempre explicitamente, e por isso talvez nem todos percebam, mas a pessoa que deveria ser a mais forte, o modelo e o exemplo de todos e o sustentáculo da família, tem sido cada vez mais enfraquecida. Quantas e quantas famílias têm sido hoje constituídas, simplesmente, sem a figura do pai? Vivemos hoje o extremo do absurdo de se considerar "família" uma simples união de pessoas, sem a figura do pai e da mãe ou mesmo dos filhos. Dois homens ou duas mulheres homossexuais e um cachorro, vivendo juntos numa mesma casa, já são considerados uma "família linda" (já se tornou padrão dizer que não há diferença entre um cão e um filho), e ai de quem ousar discordar. Como é possível que tal aconteça? Como é que chegamos a este ponto?!

O inimigo espiritual da humanidade evidentemente quer destruir a família, e ele sem dúvida sabe por onde começar e a quem deve atingir primeiro: àquele que deveria ser a figura do próprio Deus no mundo; àquele que deveria ser, no seio da família, o ícone do Pai do Céu. Analisemos um pouco mais de perto esta triste realidade... Em primeiro lugar, o fato de Deus Todo-Poderoso ser chamado, pelo Cristo e pelos santos, “Pai do Céu”, demonstra que a missão da paternidade é algo eminentemente espiritual. De fato, Nosso Senhor dizia Abba, que no hebraico coloquial tem significado realmente muito íntimo, próximo e cheio de ternura, algo como "Papai".

Nosso Senhor Jesus Cristo, por sua vez, veio nos revelar uma realidade da qual a humanidade até então não suspeitava: Deus é Pai, e quer ser nosso Pai! No contexto do Antigo Testamento, a Paternidade Divina é sempre citada como metáfora, algo muito distante. Deus é chamado Pai do povo de Israel porque protegeu e confiou neste povo de modo especial. Em algumas oportunidades é também chamado Pai, mas por ser o Criador Todo-Poderoso. Deus é tratado como Pai, no seu sentido próprio, somente a partir de Jesus Cristo. O Messias é o Filho de Deus feito homem, e com isso revela que Deus é Pai, e assim mostra como Deus preza, sobremaneira, a família.

O Pai do Céu mandou seu Filho ao mundo, e se meditarmos neste sacratíssimo relacionamento Pai e Filho, repleto de um Amor tão incompreensível que também é Pessoa – o Espírito Santo – podemos perceber o significado mais perfeito de família e daquilo que Deus realmente espera da paternidade. Compreendemos assim porque o demônio se esmera tanto em derrubar a figura do pai. De muitas maneiras, vemos na sociedade atual uma feminilização do homem: ele precisa se tornar cada vez mais materno e delicado – precisa assumir um certo ar e um comportamento cada vez mais dócil e suave, características e qualidades que são naturalmente típicas das mulheres. Se o homem não for assim, hoje, será desprezado, tratado como retrógrado, antiquado, reacionário... E ninguém quer esses rótulos. Ser pai no sentido tradicional tornou-se problemático, quando não inaceitável. Isso vem acontecendo na sociedade, na família e, devemos dizê-lo, até mesmo na própria Igreja. A figura poderosa e respeitável do sacerdote severo, antes viril e repleta de autoridade, foi substituída pela do "paizinho amiguinho", sempre muito "bonzinho", que fala aos fiéis como se falasse a crianças de 6 ou 7 anos de idade... O receio de melindrar a sensibilidade de pessoas cada vez mais frágeis está sempre presente. Por isso, não se fala mais no Inferno, dos castigos divinos (pois Deus, como Pai, castiga sim), das responsabilidades que homem e mulher devem assumir, das obrigações de pais e filhos. O tema das pregações parece que começa e termina sempre –, apenas e tão somente –, no amor, no perdão e na caridade divinos. E mais nada.

A grande verdade é que as nossas famílias atuais, cada vez mais, parecem ter “duas mães”: uma “mãe com barba” e outra mãe sem barba, porque os dois –, pai e mãe, macho e fêmea –, querem fazer o papel da mulher... Ninguém mais quer assumir o papel do pai bravo, educador, amoroso porém detentor da autoridade última naquele núcleo familiar; responsável por prover não só o sustento, mas também e principalmente a base moral aos filhos.

Voltemos portanto o olhar para o céu como fazia e nos ensinou Jesus, para o modelo de Pai que os homens devem seguir. O de um pai amoroso e que castiga aqueles que ama, pois quer ver todos os seus filhos no céu.


fonte: o fiel católico

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