segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Semelhantes a Deus? Será?

O ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1,26), conforme nos relata as sagradas escrituras, se parar para pensar um pouquinho, ou ainda se estudar um pouco mais a bíblia verá que em outra passagem está escrito que ninguém pode se assemelhar a Deus (Isaías 40,18). Como ficam as coisas? Parece contradição não é mesmo mas, se cremos que a bíblia é inspirada por completo pelo Espírito Santo, então devemos procurar compreender a mensagem contida nessa aparente contradição.

De cara, o que se aprende já na catequese é o que se diz no livro do Gênesis. E qualquer um pode compreender essa passagem intuindo para si que somos semelhantes a Deus enquanto aparência. Dessa forma, um elefante, também criado por Deus, não é semelhante a ele, assim como nenhum animal. Apenas, segundo as escrituras, o ser humano. Indo um pouco mais adiante, encontramos no Salmo 85,8 que “não há semelhante a ti entre os deuses, Senhor”. Se as escrituras afirmam isso, com relação as divindades pagãs e o próprio criador do universo, o que dizer então da raça humana? Sem dúvida, pelo que nos ensina o salmo, não somos semelhantes a Deus, já que nem os deuses pagãos o são.

Refletindo um pouco mais, é fácil de se aceitar que um objeto branco não é semelhante a um objeto doce pois possuem naturezas diferentes. Nem podemos dizer que um tablete de açúcar, que é doce, é semelhante a um pedaço de maria mole, que é branca. E então, como fica nossa situação nesta questão apresentada pela palavra de Deus? Somos semelhantes ou não? Já que a bíblia aponta as duas situações. A resposta é simples, sim e não. E quem nos elucida a questão é o doutor angélico São Tomás de Aquino em sua suma teológica artigo terceiro da primeira parte.

Ele nos ensina que a semelhança e imagem não está relacionada com a ordem natural. Dois homens se parecem e são semelhantes, enquanto a forma, pois pertencem a mesma ordem de grandeza. Já Deus, que está acima de todas as ordens e é a essência de todas elas, não se equipara a elas. Não se pode dizer que Deus se parece com o homem porque esta não é a ordem das coisas. O homem, sim, se parece com Deus no sentido de se assemelhar a sua imagem. Notemos que no livro do Gênesis muitas coisas foram criadas por Deus, saíram dele, mas apenas o homem foi feito a “sua imagem e semelhança”, enquanto aparência e não enquanto natureza e é por isso que, para deixarmos de ser suas criaturas e passarmos a condição de filhos adotivos, recebemos a graça do batismo conquistado na cruz. Notemos que nossa existência, que partiu da essência de Deus não nos equipara a ele, mas por seu amor, somos semelhantes em aparência e somos convidados a sermos seus imitadores (1ª Coríntios 11,1).

Tanto é, que o próprio redentor, fazendo a vontade do pai, assumiu nossa natureza humana, sem perder sua natureza divina, para nos ensinar e dar exemplo de como devemos nos assemelhar a ele, para podermos alcançar a coroa da glória eterna. Se somos assim, semelhantes a sua imagem devemos ser semelhantes as suas atitudes. Por isso, é preciso entender que não somos imperfeitos, somos perfectíveis. Somos criaturas que podem chegar a perfeição, contribuindo com o Pai Eterno. Aquilo que é imperfeito não pode mudar sua natureza por força própria. Sempre será imperfeito a não ser que a mão divina, para o qual tudo é possível, intervenha em sua criação.

Sendo assim, nos alegremos, pois esse Deus que nos criou por amor, nos concedeu essa natureza humana perfectível para que, passando por esse vale de lágrimas, cresçamos até a estatura de Cristo para conquistarmos o prêmio eterno do céu.


fonte: Jefferson Roger

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