quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Até o Sangue

Carta aos Hebreus 12,3-7 – “Considerai, pois, atentamente aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Provérbios 3,11s). Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?"

Pois bem caros leitores. Com este pequeno trecho da carta aos Hebreus, somos “delicadamente” chamados a atenção, para não usarmos outra expressão mais incisiva, acerca de nossas atitudes frente a batalha que se apresenta e que irá findar apenas com nossa passagem pela morte. Convenhamos, o trecho nos alerta para uma falta de perseverança de nossa parte. Perseverança essa que nos recompensará com a salvação (Mateus 10,22). E o apóstolo muito inteligentemente nos aponta um grande motivo para não cedermos à tentação do desânimo. Ele aponta para o Cristo, cujas contrariedades do seu tempo, somou-se ao contexto da humanidade, culminando em suas cinco chagas no alto da cruz. São Paulo é direto. Ora, Jesus passou pelo que passou, não só por nós, mas por cada um de nós e cada um de nós ficamos nos debatendo porque precisamos, isso mesmo, precisamos lutar até o fim de nossas forças, porque o diabo, que já sabe como termina a sua história, se esforça sem cessar e sem se distrair para que nós façamos parte de sua rebeldia contra Deus, mesmo que nem tenhamos conta disso. Eis a sua sutileza.

E a mensagem que deriva desse olhar que nos é apontado é claríssima. Temos que enfrentar a batalha resistindo até o sangue. E essa resistência precisa acontecer de modo figurativo e literal. Em Mateus 11,12 Jesus nos ensina que o céu é conquistado a força e são os violentos que o conquistam. Ou seja, conquista a força porque lutamos contra o pecado, resistindo até o sangue. Essa resistência significa um esforço que se caracteriza numa atitude violenta. No fundo, muitos sabem disso; sabem que se não levarem a sério sua missão de fazer o bem e evitar o mal, irão acabar, como diz o apóstolo fazendo o mal que não aprovam. Se deixam vencer pelo desânimo porque, tentando caminhar sozinhos (João 15,5), esbarram numa luta desonesta contra satanás e seus demônios. Uma grande santa chamada Francisca Romana em seus escritos nos deixou alguns colóquios e experiências místicas que Deus lhe concedeu em vista de sua grande busca pela pureza em vida e uma vivência pautada na pobreza evangélica. Deus lhe concedeu saber como é a influência da horda maligna sobre os viventes e ela nos conta que somos assediados espiritualmente por mais de um espírito maligno. Quanto mais subimos em santidade, mais é o empenho deles em nos derrubar. Mas isso também todo mundo sabe. Vencer as grandes tentações e também as tentações de diversos graus é tarefa para uma vida inteira. Como diz o apóstolo, quem está de pé, cuide para que não caia. A salvação de cada um será decretada por Jesus e não somos nós que iremos achar que já estamos salvos e que, portanto, podemos, como Pelágio, julgar que somente com nossos esforços próprios iremos ao céu. Essa atitude faz parte de uma distração e nela caímos na tentação porque relaxamos em nossa vigilância, que como já sabemos, deve ser constante, já que o diabo nos espreita como um leão que busca a quem dar o bote (1ª Pedro 5,8).

Simples assim, como diz Santa Teresa de Calcutá, tem que ser “até o sangue”, seja num sangue que brote do martírio, como os grandes santos e santas de Deus, seja num sangue que brote do esforço interior, de mente, corpo e coração, para não ceder as ofertas do inimigo e tornar-se amigo do mundo e inimigo de Deus (Tiago 4,4).


fonte: Jefferson Roger

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