Me parece que quando as coisas não são do seu jeito, você desiste. Será, caros leitores, que Jesus poderia neste momento estar se fazendo essa pergunta sobre cada um de nós? Será que, como eternas crianças birrentas, cada um de nós não vive reclamando de Deus porque procuramos ser pessoas honestas, corretas e seguidoras de seus valores mas em troca só o que recebemos são motivos para nossas lágrimas nesta vida que não passa de um vale? Seja como for, não podemos ser hipócritas e dizer a nosso respeito que nunca desistimos de alguma coisa. Seriamos mentirosos como lemos nas cartas de São João. Pois, com certeza, podemos dizer que já alguma vez na vida desistimos de algo. E atenção: nem sempre desistir é uma coisa ruim. Desistir é uma opção que, dependendo do contexto pode trazer más ou boas consequências. Conto um pequeno caso para ilustrar um pouco o artigo. Certa vez, eu que sou um corredor de rua desde 1982 e até os dias de hoje pratico esta atividade física como exercício para manter a saúde e boa forma, resolvi me preparar para enfrentar uma prova de montanha de 52km percorrida em terreno acidentado e em temperatura inicial de -4 graus. Em Urubici-SC no ano de 2011. Nesta prova, na altura do km 42 minhas forças, por culpa do esforço físico irregular que o percurso exigia, começaram a provocar a falência de alguns grupos musculares. Afinal, conclui a prova em 6h36min, correndo sem nenhuma parada para descanso. A grande intensidade do esforço prejudicou o movimento mecânico da corrida de modo que não era mais possível prosseguir sem sentir dor. Faltavam apenas mais 10km e com o terreno em que estávamos fazendo essa parte da prova, não se poderia gastar menos de 1 hora. Havia então uma decisão a ser tomada. Desistir em virtude da dor e ser resgatado pela equipe médica ou prosseguir administrando o cansaço e as dores até a chegada. Desistir e preservar a integridade física e a saúde ou pagar o preço de chegar na linha final custasse o que custasse. Leitores resolvi não desistir. Depois de meses de preparação específica tentando simular as dificuldades do percurso faltavam apenas 10 km e neste ponto resolvi pagar o preço de completar a prova administrando as variáveis e ciente de que possíveis sequelas poderiam surgir. Embora talvez seja meio difícil de acreditar, não pensei no fato de que minha família que estava ansiosa para me ver chegar iria se deparar comigo chegando de ambulância. Nesta época eu já estava casado havia 13 anos, minha primeira filha tinha 8 anos e eu sabia que se eu desistisse, receberia o apoio deles sem precisar dar satisfação e sim, explicação. Para concluir o caso, tive que pagar o preço, não teve jeito. A ligação do fêmur no osso do quadril se desgastou ao ponto de virar uma sequela. Agora, mais de 6 anos depois, tornou-se a famosa dorzinha que incomoda de vez em quando. Algo como aquelas mulheres que fazem grandes cirurgias e vez por outra sua operação dá as suas doidinhas. Eu sabia que poderia acontecer e assumi o risco. Hoje, sem arrependimento nenhum, a sequela é muito bem cuidada, tratada e fica mantida sob controle. Sequelas são como cicatrizes, não desaparecem mais, apenas é preciso nos adaptarmos a nossa nova realidade e com isso alcançarmos a melhor qualidade de vida possível. Tanto é, que no meu caso até os dias de hoje pratico semanalmente por três dias, a atividade da corrida de rua percorrendo, não tão grandes distâncias, mas distâncias que me permitam cuidar da saúde. Contei isso para mostrar que, se podemos na vida material, na vida do corpo, tomar decisões dessa magnitude, quanto mais devemos faze-lo em relação a nossa vida espiritual. É fácil seguir Jesus quando tudo está bem; quando o sofrimento bate à porta, quando as discussões batem à porta, quando a dor do coração bate à porta, quando as tristezas batem à porta, quando a morte em nossa família bate à porta ou quando qualquer outro tipo de provação ou tribulação bate em nossa porta, já corremos ou para arrumar um porquê estou passando por isso, o que fiz de errado para merecer isso ou corremos a pedir que Deus nos livre de tais coisas, permitidas ou enviadas por Deus. Ninguém gosta da dor ou de sofrer, mas o não gostar está relacionado com a propaganda que o diabo faz no sentido contrário da questão. A dor é filha do amor. Quem pensa o contrário afirma que Jesus foi um mentiroso e esse negócio que chamam de sua paixão onde ele carregou todos os pecados da humanidade e sofreu por isso é lorota da religião. Não deve ser assim, se as coisas não são do nosso jeito é porque o nosso jeito não está conforme a vontade de Deus. Do contrário, se não pensarmos assim, com um olhar voltado para a eternidade, sempre correremos o risco de achar que não existe “A Verdade”, existe apenas a nossa verdade. Ou as coisas acontecem segundo a nossa verdade e não segundo a verdade do outro ou de Deus ou não queremos nem saber, nos revoltamos, apontamos os culpados, seus erros e como diz Jesus, nem nos importamos com a trave que está em nossos olhos. fonte: Jefferson Roger
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