quarta-feira, 15 de agosto de 2018

De um mau Deus pode tirar algo de bom?

Pessoal, convenhamos, a religião católica, numa tentativa de explicar a frase título deste artigo, que também possui referências bíblicas e na Tradição com origem apostólica, busca justificar o sofrimento alegadamente imposto por Deus ou permitido por ele, para nosso bem e crescimento espiritual e no amor. Detalhadamente pesquisando até poderemos, de fato, encontrar argumentos que respaldem essa afirmação. Porém, na prática, parece não haver unanimidade nesta questão quando o assunto se relaciona com a salvação da alma.

Vamos refletir um pouquinho na onisciência de Jesus, isso mesmo que você leu. Todo mundo sabe, porque leu nos evangelhos que, durante e santa ceia Jesus disse que um dos doze iria traí-lo. Também se sabe que quando Pedro disse que seguiria Jesus não importando o que acontecesse, Jesus disse que ele o negaria antes que o galo cantasse. Como vemos, não precisamos de estranheza nenhuma ao pensarmos que Jesus sabe de antemão tudo que iremos fazer. Acabamos de relembrar duas passagens bíblicas. Dois exemplos práticos que podem nos ajudar na reflexão maior que buscamos neste artigo.

Deus pôde tirar algo de bom da negação de Pedro, que depois arrependido chorou amargamente? Jesus não disse nos evangelhos que aquele que o negar perante os homens ele o negara perante o Pai Eterno! Foi Jesus que falou! Deus pôde tirar algo de bom da traição de Judas Escariotes, que por trinta moedas (e olhem que hoje em dia muitos atribuem a Jesus menos ainda) entregou o Cristo aos seus inimigos? Jesus disse a respeito disso que seria melhor que se atirasse ao lago com uma pedra atada ao pescoço!

O que você acha caro leitor? O que de bom Deus tirou desses exemplos? Podemos dizer que da situação de Pedro a lição que fica é que o arrependimento sincero pelo pecado com propósito de mudança de vida, recebe pelo amor e misericórdia o perdão, renovando nossas vestes no sangue do cordeiro. Na situação de Judas a lição que fica é que o pecado cometido, depois não arrependido, gerou outro pecado (pecado gera pecado) e este, gravíssimo por sinal (pecado do desespero – um dos seis pecados contra o Espírito Santo segundo São Tomás de Aquino) provocou em Judas o sentimento de abandono da fé em Deus, achando que seu pecado era maior e por isso imperdoável, maior que a misericórdia de Deus. Como percebemos, o resultado do mal em nossas vidas, dependendo de nossas escolhas, pode nos trazer frutos ou desgraças.

Assim é na vida de cada um. São Pedro vai dizer em suas cartas que se perseverarmos com paciência, passaremos pelas tempestades e no tempo oportuno receberemos a recompensa. Caiu? Levanta! Caiu de novo? Levanta de novo! Quem gosta de ficar esfregando a cara no chão são os porcos. É assim que queremos ficar? Com a cara no chão, de cotovelos e joelhos no chão, arreados e nos culpando por sermos incapazes de olhar para cima, estender a mão para Jesus e suplicar por sua ajuda? Se chegamos até aqui nesta leitura, ainda não é tarde; estamos vivos e podemos a partir do já, do agora, deixarmos para trás o que desagrada a Deus e, como diz Santa Catarina de Sena, abraçarmos nossa cruz (nossos sofrimentos) para pararmos de padecer.

Então podemos concluir que, mesmo Deus sabendo por onde estamos andando e em consequência disso o que iremos fazer, ele ainda assim vai pelo caminho estendendo sua mão. Se não queremos aprender pela dor, iremos aprender pelo amor. Percebem que se praticamos o mal, coniventes a ele, pecando de olhos abertos, desse mal iremos padecer se escolhermos o afastamento já nessa vida de Deus? O mal que pode trazer algo de bom em nossas vidas, chama-se sofrimento. O mal que pode trazer algo de ruim para nossas vidas chama-se pecado.


fonte: Jefferson Roger

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