sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Pega leve

Com trinta e três anos de catequese já percorridos, uma coisa posso atestar com propriedade: quanto mais o tempo passa mais o diabo faz seu esforço para “transformar” o mundo num liquidificador. E basta um olhar mais atento e apurado para se concluir que ele tem obtido êxito. A radicalidade pedida por Jesus nos evangelhos sempre foi duramente combatida, já nos tempos em que ele se sujeitou a caminhar entre nós; a violência praticada contra aquilo que Deus quer de nós e aquilo que nós queremos (dele para nós e de nós) movimentou a humanidade em muitas direções, todas, adaptadas.

Seguir uma religião, defendendo-a com unhas e dentes, está sendo cada vez mais uma tarefa de proporções titânicas. Basta experimentar sairmos em defesa da fé, aquela fé descrita no capítulo onze da carta aos Hebreus que pronto, feita a discussão. Porém, se ainda fosse uma discussão entre rivais que pregam “verdades” diferentes (suas verdades), ainda poderíamos dar um desconto. O problema é que tantas vezes, as discussões acontecem dentro da farinha que está no mesmo saco. Onde já se viu?

Ademais, o fato, no entanto, está documentado nas santas palavras de Deus; Jesus disse que veio para trazer a discórdia dentro de casa e disse que seríamos perseguidos por causa do seu nome. É o que acontece sem dúvida alguma com aqueles que empunham a bandeira do evangelho. Eu já passei por isso, basta “apertar” um pouco mais nos encontros da catequese, nas conversas entre cristãos, artigos escritos que pronto: alguém sempre acaba esperneando; inclusive padres, que já disseram que eu tinha razão em ensinar o que estava ensinando, que estava correto, mas que é preciso “pegar leve” com o povo, porque eles não estão preparados para seguirem Jesus na proporção que ele nos pede. Ou ainda tive que ouvir que é melhor deixar que a misericórdia de Deus se encarregue dos fatos. Essa é boa hein! Jesus é misericordioso, mas também é justo juiz. A bíblia nos recorda que não devemos abusar da sua misericórdia (Eclesiástico 5).

Seja como for, quanto mais o tempo passa menos pessoas estão dispostas a trilharem o caminho oferecido. O ponto em questão é que, não devemos levar duas túnicas, duas sandálias... ou seja, nesse caminho devemos desapegar de tudo, porém, além do mundo pregar a sua doutrina, a doutrina do liquidificador e da batedeira, no seio da igreja (Mateus 16,18) do Redentor a conversa é a mesma. A direção da igreja, que buscou se tornar uma instituição de hierarquia aparente, pinta e borda pelo mundo afora confundindo a cabeça dos fiéis. Hora prega uma radicalidade, hora prega um relativismo, hora prega algo que nem pode ser denominado. Haja vista tantas pessoas se tornarem ateus.

Ainda bem que no fim das contas, como nos recorda Santa Teresa de Calcutá, tudo é entre nós e Deus. Por isso, seguir Jesus Cristo nunca vai deixar de ser o que de melhor podemos e devemos fazer (1ª Coríntios 11,1).


fonte: Jefferson Roger

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