terça-feira, 26 de maio de 2020

Dom Athanasius Schneider, em entrevista ao jornal católico “The Remnant”, fala sobre a proibição das Missas públicas e a necessidade de conversão



Segue a matéria na íntegra com tradução feita pelo site montfort.org.br:

Diane Montagna (DM): Excelência, qual é a sua impressão geral sobre o modo como a Igreja está lidando com a epidemia de coronavírus?

 

+ Athanasius Schneider: Minha impressão geral é que a maioria dos bispos reagiu precipitadamente e em pânico ao proibir todas as missas públicas e – o que é ainda mais incompreensível – ao fechar as igrejas. Tais bispos reagiram mais como burocratas civis do que pastores. Ao se concentrarem exclusivamente em todas as medidas de proteção higiênicas, eles perderam a visão sobrenatural e abandonaram a primazia do bem eterno das almas.

 

DM: A diocese de Roma suspendeu rapidamente todas as missas públicas para cumprir as diretrizes do governo. Os bispos de todo o mundo adotaram medidas semelhantes. Os bispos poloneses, por outro lado, pediram que mais missas fossem celebradas para que a aglomeração fosse menor. Qual a sua opinião sobre a decisão de suspender as missas públicas para impedir a disseminação do coronavírus?

 

Enquanto os supermercados estiverem abertos e acessíveis e enquanto as pessoas tiverem acesso ao transporte público, não se vê uma razão plausível para proibir as pessoas de assistirem à Santa Missa em uma igreja. Poderiam se garantir nas igrejas as mesmas e ainda melhores medidas de proteção higiênica. Por exemplo, antes de cada missa, é possível desinfetar os bancos e as portas, e todo mundo que entrar na igreja pode desinfetar as mãos. Outras medidas semelhantes também podem ser tomadas. Pode-se limitar o número de participantes e aumentar a frequência da celebração da missa. Temos um exemplo inspirador de uma visão sobrenatural em tempos de epidemia no presidente da Tanzânia, John Magufuli. O Presidente Magufuli, que é católico praticante, disse no domingo, 22 de março de 2020 (domingo Laetare), na Catedral de São Paulo, na capital da Tanzânia, Dodoma: “Insisto com vocês, meus irmãos cristãos e até muçulmanos: não tenham medo, não parem de se reunir para glorificar a Deus e louvá-lo. Por isso, como governo, não fechamos igrejas ou mesquitas. Em vez disso, elas devem estar sempre abertas para o povo buscar refúgio em Deus. As igrejas são lugares onde as pessoas podem buscar a verdadeira cura, porque ali reside o Deus verdadeiro. Não tenha medo de louvar e buscar o rosto de Deus na igreja. ”

 

Referindo-se à Eucaristia, o Presidente Magufuli também falou estas palavras encorajadoras: “O coronavírus não pode sobreviver no corpo eucarístico de Cristo; em breve será queimado. Foi exatamente por isso que não entrei em pânico ao receber a Santa Comunhão, porque sabia que com Jesus na Eucaristia, estou seguro. Este é o momento de construir nossa fé em Deus. ”

 

DM: Vossa Excelência acha que é responsável um sacerdote celebrar uma missa particular com alguns fiéis leigos presentes, desde que sejam tomadas as devidas precauções de saúde?

 

É responsável, e também meritório, e seria um autêntico ato pastoral, desde que o sacerdote tome as precauções sanitárias necessárias.

 

DM: Os padres estão em uma posição difícil nessa situação. Alguns bons padres estão sendo criticados por obedecer às diretrizes de seu bispo para suspender as missas públicas (embora continuem a celebrar missas em particular). Outros estão procurando maneiras criativas de ouvir confissões enquanto procuram proteger a saúde das pessoas. Que conselho você daria aos padres para viverem sua vocação nesses tempos?

 

Os padres devem lembrar que eles são, acima de tudo, pastores de almas imortais. Eles devem imitar a Cristo, que disse: “Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Quem é mercenário e não pastor, que não é o proprietário das ovelhas, vê o lobo chegando, abandona as ovelhas e foge; e o lobo as agarra e dispersa. Ele foge porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Eu conheço minhas ovelhas, e minhas ovelhas me conhecem. (João 10: 11-14) Se um sacerdote observa de maneira razoável todas as precauções de saúde necessárias e usa de discrição, ele não precisa obedecer às diretrizes de seu bispo ou do governo para suspender a missa para os fiéis. Tais diretrizes são uma lei humana pura; no entanto, a lei suprema da Igreja é a salvação das almas. Os padres em tal situação precisam ser extremamente criativos para prover aos fiéis, mesmo para um pequeno grupo, a celebração da Santa Missa e a recepção dos sacramentos. Tal era o comportamento pastoral de todos os padres confessores e mártires em tempos de perseguição.

 

DM: É legítimo que um padre desafie a autoridade, particularmente a autoridade eclesiástica (por exemplo, se um padre é instruído a não ir visitar os doentes e moribundos)?

 

Se um sacerdote é proibido por uma autoridade eclesiástica de visitar os doentes e moribundos, ele não pode obedecer. Essa proibição é um abuso de poder. Cristo não deu ao bispo o poder de proibir a visita de doentes e moribundos. Um verdadeiro padre fará todo o possível para visitar uma pessoa que está morrendo. Muitos padres o fizeram, mesmo quando isso significava colocar suas vidas em perigo, seja no caso de perseguição  ou de uma epidemia. Temos muitos exemplos desses padres na história da Igreja. São Carlos Borromeu, por exemplo, deu a Santa Comunhão com as próprias mãos na língua de moribundos que estavam infectados pela peste. Em nossos dias, temos o exemplo emocionante e edificante de padres, especialmente da região de Bérgamo, no norte da Itália, que foram infectados e morreram porque cuidavam de pacientes com coronavírus que estavam morrendo. Um padre de 72 anos com coronavírus morreu há alguns dias na Itália, depois de desistir do ventilador, do qual precisava para sobreviver, e permitiu que ele fosse administrado a um paciente mais jovem. Não visitar os doentes e moribundos é o comportamento mais de um mercenário do que de um bom pastor.

 

DM: Vossa Excelência passou seus primeiros anos na Igreja subterrânea soviética. Que análise ou perspectiva gostaria de compartilhar com os fiéis leigos que não podem assistir à missa e, em alguns casos, nem sequer podem passar um tempo diante do Santíssimo Sacramento, porque todas as igrejas em sua diocese foram fechadas?

 

Eu encorajaria os fiéis a fazerem frequentes atos de comunhão espiritual. Eles podem ler e meditar as leituras diárias da Missa e todo o ordinário da Missa. Eles podem enviar seu santo Anjo da Guarda para adorar Jesus Cristo no tabernáculo em seu nome. Eles podem se unir espiritualmente com todos os cristãos que estão na prisão por causa de sua fé, com todos os cristãos que estão doentes e acamados, com todos os cristãos moribundos que são privados dos sacramentos. Deus preencherá este tempo de privação temporal da Santa Missa e do Santíssimo Sacramento com muitas graças.

 

DM: O Vaticano anunciou recentemente que as liturgias da Páscoa serão celebradas sem os fiéis presentes. Mais tarde, especificou que está estudando “formas de implementação e participação que respeitam as medidas de segurança adotadas para impedir a disseminação do coronavírus”. Qual a sua opinião sobre essa decisão?

 

Dada a estrita proibição de reuniões de massa pelas autoridades governamentais italianas, pode-se entender que o Papa não possa celebrar as liturgias da Semana Santa com a presença de um grande número de fiéis. Penso que as liturgias da Semana Santa poderiam ser celebradas pelo Papa com toda a solenidade e sem cortes, por exemplo, na Capela Sistina (como era costume dos papas antes do Concílio Vaticano II), com a participação do clero (cardeais, padres) e um grupo selecionado de fiéis, aos quais sejam aplicadas previamente medidas de proteção higiênicas. Não se pode ver a lógica de proibir acender o fogo (novo), a bênção da água e o batismo na Vigília Pascal, como se essas ações transmitissem um vírus. Um medo quase patológico superou o senso comum e a visão sobrenatural.

 

DM: Excelência, o que o modo como a Igreja está lidando com a epidemia de coronavírus revela sobre o estado atual da Igreja e, particularmente, da hierarquia?

 

Está revelando a perda da visão sobrenatural. Nas últimas décadas, muitos membros da hierarquia da Igreja têm se envolvido predominantemente em assuntos seculares, mundanos e temporais e, por isso, ficaram cegos às realidades sobrenaturais e eternas. Seus olhos foram preenchidos com o pó das ocupações terrenas, como disse São Gregório Magno (ver Regula pastoralis II, 7). A reação deles ao lidar com a epidemia de coronavírus revelou que eles dão mais importância ao corpo mortal do que à alma imortal do homem, esquecendo as palavras de Nosso Senhor: “O que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? ” (Marcos 8:36). Os mesmos bispos que agora tentam proteger (às vezes com medidas desproporcionais) os corpos de seus fiéis da contaminação por um vírus material, permitiram tranquilamente que o vírus venenoso dos ensinamentos e práticas heréticos se espalhasse entre seus rebanhos.

 

DM: O cardeal Vincent Nichols disse recentemente que teremos uma nova fome pela Eucaristia depois que a epidemia de coronavírus terminar. Vossa Excelência concorda?

 

Espero que essas palavras sejam verdadeiras para muitos católicos. É uma experiência humana comum que a privação prolongada de uma realidade importante inflame os corações das pessoas com um desejo por ela. Isso se aplica, é claro, àqueles que realmente acreditam e amam a Eucaristia. Essa experiência também ajuda a refletir mais profundamente sobre o significado e o valor da Santa Eucaristia. Talvez os católicos que estavam tão acostumados com o Santo dos Santos que passaram a considerá-lo algo comum e banal experimentem uma conversão espiritual e compreendam e tratem a Santa Eucaristia a partir de agora como coisa extraordinária e sublime.

 

DM: No domingo, 15 de março, o Papa Francisco foi rezar diante da imagem de (Nossa Senhora) Salus Populo Romani em Santa Maria Maggiore e diante do milagroso Crucifixo instalado na igreja de San Marcelo al Corso. Vossa Excelência acha importante que bispos e cardeais realizem atos semelhantes de oração pública pelo fim do coronavírus?

 

O exemplo do Papa Francisco pode encorajar  muitos bispos a atos semelhantes de testemunho público de fé e oração e a sinais concretos de penitência que implorem a Deus pelo fim da epidemia. Pode-se recomendar que bispos e padres atravessem regularmente suas cidades, vilas e aldeias com o Santíssimo Sacramento no ostensório, acompanhados por um pequeno número de clérigos ou fiéis (um, dois ou três), dependendo dos regulamentos do governo. Tais procissões com o Senhor Eucarístico transmitirão aos fiéis e aos cidadãos o consolo e a alegria de não estarem sozinhos em tempos de tribulação, de que o Senhor esteja verdadeiramente com eles, de que a Igreja é uma mãe que não esqueceu nem abandonou os filhos.  Poderia ser lançada uma corrente mundial de ostensórios carregando o Santíssimo Sacramento pelas ruas deste mundo. Tais mini-procissões eucarísticas, mesmo que sejam realizadas por apenas um bispo ou um sacerdote, implorarão graças de cura e conversão físicas e espirituais.

 

DM: O coronavírus eclodiu na China pouco depois do Sínodo da Amazônia. Alguns meios de comunicação acreditam firmemente que esse é um castigo divino pela presença de Pachamama no Vaticano. Outros supõem que seja um castigo divino pelo acordo Vaticano-China. Vossa Excelência acha que alguma dessas posições é válida?

 

A epidemia de coronavírus, na minha opinião, é sem dúvida uma intervenção divina para castigar e purificar o mundo pecaminoso e também a Igreja. Não devemos esquecer que Nosso Senhor Jesus Cristo considerou as catástrofes físicas como castigos divinos. Lemos, por exemplo: “Naquele tempo, algumas pessoas vieram contar a Jesus sobre alguns galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos sacrifícios que ofereciam. Jesus respondeu: «Vós achais que esses galileus eram mais pecadores do que os outros galileus porque sofreram tudo isso? Eu vos digo que não; e se vós não vos converterdes, todos perecereis da mesma forma. Ou aqueles dezoito em quem a torre de Siloé caiu e os matou, vós pensais que eles eram mais culpados do que os outros habitantes de Jerusalém? Eu vos digo que não; e se vós não vos converterdes, todos perecereis da mesma maneira ».” (Lucas 13: 1-5)

 

A veneração do ídolo pagão de Pachamama dentro do Vaticano, com a aprovação do Papa, foi certamente um grande pecado de infidelidade ao Primeiro Mandamento do Decálogo, foi uma abominação. Toda tentativa de minimizar esse ato de veneração não pode enfrentar a enxurrada de evidências e razões óbvias. Considero que esses atos de idolatria foram o culminar de uma série de outros atos de infidelidade à salvaguarda do depósito divino da fé por muitos membros de alto escalão da hierarquia da Igreja nas últimas décadas. Não tenho certeza absoluta de que o surto de coronavírus seja uma retribuição divina para os eventos de Pachamama no Vaticano, mas considerar tal possibilidade não seria exagero. Já no começo da Igreja, Cristo repreendeu os bispos (“anjos”) das igrejas de Pérgamo e Tiatira por causa de sua conivência com a idolatria e o adultério. A figura de “Jezabel”, que seduziu a igreja para a idolatria e adultério (ver Ap 2:20), também pode ser entendida como um símbolo do mundo em nossos dias – com quem muitos da hierarquia da Igreja hoje estão flertando.

 

As seguintes palavras de Cristo também permanecem válidas para o nosso tempo: “Aqueles que cometerem adultério com ela lançarei em grande tribulação, a menos que se arrependam de suas obras, e matarei seus filhos. E todas as igrejas saberão que eu sou aquele que examina a mente e o coração, e eu darei a cada um de acordo com suas obras. ” (Ap 2: 22-23) Cristo ameaçou punir e chamou as igrejas à penitência: “Eu tenho algumas coisas contra ti: tu tens alguns que ensinam … que eles podem comer alimentos sacrificados a ídolos e praticar a fornicação. Portanto, arrepende-te. Caso contrário, virei a ti em breve e lutarei contra eles com a espada da minha boca ”(Ap 2: 14-16). Estou convencido de que Cristo repetiria as mesmas palavras ao Papa Francisco e aos outros bispos que permitiram a veneração idólatra de Pachamama e que aprovaram implicitamente relações sexuais fora de um casamento válido, permitindo que os chamados “divorciados e recasados ” vivendo como casados recebessem a Sagrada Comunhão.

 

DM: Vossa Excelência fez referência aos Evangelhos e ao livro do Apocalipse. A maneira como Deus tratou Seu povo escolhido no Antigo Testamento nos dá alguma ideia da situação atual?

 

A epidemia de coronavírus causou uma situação dentro da Igreja que, a meu conhecimento, é única, ou seja, uma proibição quase mundial de todas as missas públicas. Isso é parcialmente análogo à proibição da adoração cristã em quase todo o Império Romano nos três primeiros séculos. A situação atual é sem precedentes, no entanto, porque no nosso caso a proibição do culto público foi emitida pelos bispos católicos, e até mesmo antes dos respectivos mandatos governamentais.

 

De certa forma, a situação atual também pode ser comparada à cessação da adoração sacrificial do Templo de Jerusalém durante o cativeiro babilônico do povo escolhido de Deus. Na Bíblia, o castigo divino era considerado uma graça, como, por exemplo, em: “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige; não rejeites, portanto, a punição do Senhor; porque Ele fere e cura; Ele golpeia, e Suas mãos curarão. ” (Jó 5: 17-18) e “Aqueles a quem amo, repreendo e disciplino, sede zelosos e arrependei-vos” (Ap 3:19). A única reação adequada à tribulação, catástrofes e epidemias e situações semelhantes – que são instrumentos da mão da Divina Providência para despertar as pessoas do sono do pecado e da indiferença aos mandamentos de Deus e à vida eterna – é a penitência e conversão sincera a Deus. Na oração a seguir, o profeta Daniel dá aos fiéis de todos os tempos um exemplo da verdadeira mentalidade que eles devem ter e de como devem se comportar e orar em tempos de tribulação: “Todo Israel transgrediu vossa lei e se afastou, recusando-se a obedecer vossa voz. … ó meu Deus, inclinai vosso ouvido e ouvi. Abri vossos olhos e vede nossas desolações e a cidade que é chamada pelo vosso nome. Pois não apresentamos nossos pedidos diante de vós por causa de nossa justiça, mas por causa de vossa grande misericórdia. Ó Senhor, ouvi; Ó Senhor, perdoai. Ó Senhor, prestai atenção e agi. Não demorai, por vosso próprio bem, ó meu Deus, porque vossa cidade e vosso povo são chamados pelo vosso nome ”(Dan 9: 11,18-19).

 

DM: São Roberto Belarmino escreveu: “[São] sinais relativos à vinda do Anticristo … haverá a maior e a última perseguição, e também o sacrifício público (da Missa) cessará completamente” (Profecia de Daniel, páginas 37-38). Vossa Excelência acha que aquilo a que ele se refere aqui é o que estamos testemunhando agora? É o começo do grande castigo profetizado no livro de Apocalipse?

 

A situação atual fornece motivos razoáveis e ​​suficientes para pensar que estamos no início de um tempo apocalíptico, que inclui castigos divinos. Nosso Senhor se referiu à profecia de Daniel: “Quando vir a abominação da desolação anunciada pelo profeta Daniel, levantada no lugar santo, aquele que lê entenda” (Mt 24:15). O Livro do Apocalipse diz que a Igreja terá que fugir por um tempo para o deserto (ver Ap 12:14). A cessação quase geral do Sacrifício público da Missa poderia ser interpretada como uma fuga para um deserto espiritual. O que é lamentável em nossa situação é o fato de muitos membros da hierarquia da Igreja não verem a situação atual como uma tribulação, como um castigo divino, ou seja, como uma “visita divina” no sentido bíblico. Essas palavras do Senhor também se aplicam a muitos membros do clero no meio da atual epidemia física e espiritual: “Tu não reconheceste o tempo em que foste visitada” (Lucas 19: 44). A situação atual dessa “prova de fogo” (ver  1 Pedro 4:12) deve ser levada a sério pelo Papa e pelos bispos, a fim de levar a uma profunda conversão de toda a Igreja. Se isso não ocorrer, a mensagem da seguinte história de Soren Kierkegaard também será aplicável à nossa situação atual: “Um incêndio eclodiu nos bastidores de um circo. O palhaço saiu para avisar o público; eles pensaram que era uma piada e aplaudiram. Ele repetiu; a aclamação foi ainda maior. Eu acho que é assim que o mundo chegará ao fim: aplausos gerais daqueles que acreditam que é uma piada. “

 

DM: Excelência, qual é o significado mais profundo por trás de tudo isso?

 

A situação da cessação pública da Santa Missa e da Santa Comunhão sacramental é tão única e séria que se pode descobrir por trás de tudo isso um significado mais profundo. Este evento ocorreu quase cinquenta anos após a introdução da Comunhão na mão (em 1969) e da reforma radical do rito da Missa (em 1969/1970) com a introdução de elementos protestantes (orações do ofertório) e seu estilo de celebração horizontal e instrucional (momentos de improvisação, celebração em círculo fechado e em direção ao povo). A práxis da Comunhão na mão durante os últimos cinquenta anos levou a uma profanação não intencional e intencional do Corpo Eucarístico de Cristo em uma escala sem precedentes. Por mais de cinquenta anos, o Corpo de Cristo foi (principalmente de forma involuntária) pisado pelos pés do clero e dos leigos nas igrejas católicas em todo o mundo. O roubo de hóstias consagradas também tem aumentado a um ritmo alarmante. A prática de levar a Sagrada Comunhão diretamente com as próprias mãos à boca se assemelha cada vez mais ao gesto usual de comer. Em muitos católicos, a prática de receber a Comunhão na mão enfraqueceu a fé na Presença Real, na transubstanciação e no caráter divino e sublime da Sagrada Hóstia. Com o tempo, a presença eucarística de Cristo tornou-se inconscientemente para esses fiéis apenas uma espécie de pão ou símbolo sagrado. Agora, o Senhor interveio e privou quase todos os fiéis de assistir à Santa Missa e de receber sacramentalmente a Santa Comunhão.

 

Os inocentes e os culpados estão sofrendo esta tribulação juntos, pois no mistério da Igreja todos estão mutuamente unidos como membros: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele” (1 Cor 12:26). A atual cessação da Santa Missa e da Comunhão de maneira pública poderia ser entendida pelo Papa e pelos bispos como uma advertência divina pelos últimos cinquenta anos de profanações e banalizações eucarísticas e, ao mesmo tempo, como um apelo misericordioso para uma autêntica conversão eucarística da Igreja inteira. Que o Espírito Santo toque o coração do Papa e dos bispos e leve-os a emitir normas litúrgicas concretas, a fim de que o culto eucarístico de toda a Igreja seja purificado e orientado novamente para o Senhor.

 

Pode-se sugerir que o Papa, juntamente com cardeais e bispos, realize um ato público de reparação em Roma pelos pecados contra a Santa Eucaristia e pelo pecado dos atos de veneração religiosa às estátuas de Pachamama. Uma vez terminada a atual tribulação, o Papa deve emitir normas litúrgicas concretas, nas quais convida toda a Igreja a se voltar novamente para o Senhor na forma da celebração, ou seja, celebrante e fiéis voltados na mesma direção durante a Oração Eucarística. O Papa também deve proibir a prática da Comunhão na mão, pois a Igreja não pode continuar sem punição por tratar o Santo dos Santos na pequena Hóstia consagrada de uma maneira tão minimalista e displicente.

 

A seguinte oração de Azarias na fornalha ardente, que todo sacerdote diz durante o ritual do ofertório da Missa, pode inspirar o Papa e os bispos a ações concretas de reparação e restauração da glória do sacrifício eucarístico e do Corpo Eucarístico do Senhor: “Entretanto, que a contrição de nosso coração e a humilhação de nosso espírito nos permita achar bom acolhimento junto a vós, Senhor, como se nós nos apresentássemos com um holocausto de carneiros, de touros e milhares de gordos cordeiros! Que assim possa ser hoje o nosso sacrifício em vossa presença! Que possa reconciliar-nos convosco, porque nenhuma confusão existe para aqueles que põem em vós sua confiança. É de todo nosso coração que nós vos seguimos agora, que nós vos reverenciamos, que buscamos vossa face. Não nos confundais; tratai-nos com vossa habitual doçura e com todas as riquezas de vossa misericórdia. Ponde em execução vossos prodígios para nos salvar, Senhor, e cobri vosso nome de glória.”(Dan 3: 39-43, Septuaginta).

Fonte: o fiel católico

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