Tem sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que de todos seja honrada com título glorioso de rainha. Se o filho é rei, diz Pseudo-Atanásio, justamente a mãe deve considerar-se e chamar-se rainha. Desde o momento em que Maria aceitou ser mãe do verbo eterno, diz São Bernardino de Sena, mereceu tornar-se rainha do mundo e de todas as criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo, abade, não foi diversa da de Jesus, como, pois, da monarquia do filho pode ser separada a mãe? Por isso deve julgar-se que a glória do reino não só é comum entre a mãe e o filho, mas também que é a mesma para ambos.
Se Jesus é rei do universo, do universo também é Maria rainha, escreve Roberto, abade. De modo que na frase de São Bernardino de Sena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte, estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus.
Saibamos todos, para consolação nossa, que é uma rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós, pobres pecadores. Quer por isso a igreja que a saudemos em oração com o nome de rainha de misericórdia. O próprio nome de rainha, considera Santo Aberto Magno, denota piedade e providência para com os pobres, enquanto que o de imperatriz dá ares de severidade e rigor.
Eu ouvi – diz o salmista – estas duas coisas: que o poder é de Deus e que é vossa misericórdia (Salmos 61,12,13). Considerando o afamado chanceler de Paris, João Gerson, as palavras de Davi, disse: consistindo o reino de Deus na justiça a na misericórdia, o Senhor dividiu: o reinado da justiça reservou-o para si, e o reinado da misericórdia o cedeu a Maria. E ainda o Senhor ordenou que pelas mãos de Maria passariam, e a seu arbítrio seriam conferidas todas as misericórdias dispensadas aos homens.
Isto mesmo confirma um escritor no prefácio das epístolas canônicas, escrevendo: quando a Santíssima Virgem concebeu o Divino Verbo e deu à luz, obteve metade do reino de Deus: tornou-se rainha de misericórdia e Jesus ficou sendo rei da justiça.
Fonte: Santo Afonso Maria de Ligório
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