Por amizades perigosas entendem-se, em particular, as
sensuais, isto é, aquelas que se baseiam sobre uma complacência sensual, sobre
a fruição comum de prazeres dos sentidos, sobre certas qualidades fúteis e vãs
de espírito e coração. Essas amizades são já por si perigosas, mesmo que, no
começo, nada tenham de inconveniente, e devemos guardar nosso coração
desembaraçado delas.
Não é só grande a perda espiritual que se sofre com essas
amizades baseadas sobre certas qualidades externas duma pessoa, mas,
principalmente se for doutro sexo, é também enorme o perigo que se corre de se
perder eternamente. No começo tais amizades parecem indiferentes, mas tornam-se
pouco a pouco pecaminosas e, enfim, arrastam a alma ao pecado mortal. São como o
fogo e a palha e o demônio não cessa de assoprar até irromper o incêndio, diz
São Jerônimo.
Se sentires em teu coração, alma cristã, uma tal afeição
para com alguém, não há outro remédio para te libertares dela, senão cortá-la
resolutamente de uma vez para sempre, pois, se quiseres renunciá-la pouco a
pouco, crê-me, nunca chegarás a desfazer-te dela. Essas cadeias são dificílimas
de romper e só conseguirá quem as quebrar violentamente, duma só vez. E não
venhas com desculpa de que, até agora, nada ocorreu de inconveniente, pois
deves saber que o demônio não começa com o pior, mas só pouco a pouco leva a
alma imprudente às bordas do precipício e, então, com um leve empurrão,
precipita-as no abismo.
É uma máxima aceita por todos os mestres da vida espiritual
de que, neste ponto, não há outro remédio senão fugir e afastar-se da ocasião.
São Filipe Néri costumava dizer que, nesse combate, só os covardes saem
vencedores, isto é, os que fogem da ocasião. Podemos resistir aos outros vícios
ficando na ocasião, diz São Tomás, fazendo violência contra nós mesmos; mas o
vício contrário à pureza, porém, só o poderemos vencer fugindo da ocasião e renunciando
às afeições perigosas.
Fonte: Jefferson Roger