segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Até o fim do mundo


Disse Lúcia a Nossa Senhora: E a Amélia? – referindo-se a amiga que recentemente tinha morrido, querendo saber se a mesma já se encontrava no céu. Estará no purgatório até ao fim do mundo – disse Nossa Senhora. Talvez a revelação da Virgem Santíssima à Irmã Lúcia assuste-nos um pouco. É de fato impressionante a ideia de uma alma sofrendo no Purgatório até a consumação dos tempos. Movidos pela curiosidade, podemos chegar a nos perguntar o que teria feito Amélia para merecer uma punição assim tão severa da justiça divina.

Isso, no entanto, deve nos levar a perguntar: queremos viver plenamente o chamado de Deus para nós ou nos bastará “garantir uma vaga” no Purgatório? A pena de Amélia leva-nos a lembrar, também, daquela visão de Santa Francisca Romana, segundo a qual “por cada pecado mortal perdoado”, restaria “à alma culpada passar por um sofrimento de sete anos” no Purgatório. A amiga da Irmã Lúcia talvez tenha sido uma dessas almas que acumularam em vida inúmeros pecados mortais, dos quais se arrependeram, sem que tenham tido tempo, no entanto, para repará-los nesta vida.

Com revelações como essa, Deus quer fazer um apelo à nossa indiferença, dar um grito para romper a nossa surdez. Não se entra no Céu senão por meio de muitos sofrimentos (Atos 14, 22). Se não quisermos sofrer aqui, teremos de sofrer no outro mundo. E daí não sairemos enquanto não houvermos pago “até o último centavo” (Mateus 5, 26). O problema de muitos de nós é o quão longe estamos da meta, o quão mesquinha é muitas vezes a lógica com que vivemos a nossa fé. Quantas vezes não pensamos, por exemplo, ou até dizemos: “Se eu chegar ao Purgatório, já me darei por satisfeito”, ou: “Se for ao Purgatório, já estarei no lucro”?

Todos nós podemos muito bem ter a mesma sorte dessa amiga da Irmã Lúcia, caso não queiramos pagar, nesta existência, o alto preço do amor. Mas e nós, queremos isso? Queremos amar a Deus de todo o coração, ou nos contentaremos com garantir nossa salvação? Queremos viver plenamente o chamado de Deus para nós ou nos bastará “garantir uma vaga” no Purgatório?

Ninguém pense que esse “desejo de garantir uma vaga” seja algo de grande valia e suficiência”. Todavia, o quanto quisermos indicará a medida com que trabalharemos. Quem pensa em atingir o Purgatório, se esforçará só o necessário para chegar aí. Se trabalharmos para o Céu, no entanto, tudo mudará. Inclusive nossa sorte na outra vida. Que o exemplo dessa amiga da Irmã Lúcia nos ajude a imitar os pastorinhos de Fátima, que viveram sua vocação com heroísmo e, como recompensa, foram acolhidos sem demora no Reino dos Céus. Quanto à alma de Amélia, só o que lhe resta é contar com as nossas orações… “até ao fim do mundo”.

Fonte: Jefferson Roger com adaptações do site padrepauloricardo.org


 

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