Pode até parecer contraditório, mas um dos gêneros
cinematográficos que mais aborda a religião, seus dogmas e nuances é o terror.
Seja na condução de exorcismos, enfrentamento a assombrações ou até mesmo para
afastar criaturas sinistras, a crença em algo superior e benevolente entra em cena
com seus crucifixos e água benta. Para o bem ou para o mal.
A maneira mais simples de entender essa relação que chega a
ser codependente é lembrar que na maioria dos filmes (não apenas no terror)
existe uma espécie de batalha do bem contra o mal. São os contrastes entre
essas duas forças que desencadeiam toda uma série de eventos que deve culminar
com a inevitável vitória do bem, certo? Bom, nem sempre. Se pararmos para
pensar, a própria Bíblia traz a sua boa dose de terror para as escrituras.
Várias passagens lidam com morte, castigos divinos e derramamento de sangue.
Talvez seja uma das mais influentes coletâneas de contos de horror de todos os
tempos.
Aliás, vários livros e filmes de terror se inspiraram em
passagens específicas da Bíblia. Para a crucificação de Jesus Cristo, lembre-se
da mãe de Carrie em Carrie, a Estranha. Para as vítimas tomadas pelo lago de
sangue do Livro das Revelações (14:20), lembre-se da piscina de sangue em
Abismo do Medo ou até mesmo a onda de sangue saindo dos elevadores em O
Iluminado. Isso sem contar toda aquela história de Jesus se levantar do túmulo,
tal qual os zumbis de A Noite dos Mortos-Vivos. O principal combustível para
tantas produções que lidam com o cristianismo é justamente o medo perpetuado
por suas igrejas ao longo dos séculos. Fiéis devem temer a Deus, negar o diabo
e devotar sua vida à religião, senão o castigo será infernal e, pior ainda,
eterno!
Pois bem, caro leitor, um olhar mais desatento pode cair na
tentação de achar que é a igreja que ensina a ter medo de ser condenado ao
inferno, enviado para lá por Deus, por não ter seguido seus preceitos e vivido
conforme é do seu agrado. O pior é que é assim mesmo, não se trata de tentação
e sim, de contestação. Deve-se partir do princípio que a palavra religião vem
do latim “religare”, que significa religar-se a Deus. E obviamente, depois
disso, manter-se ligado a ele e isso, por amor a Deus, ao próximo e a si mesmo,
pois, se a alma dá abertura para outras coisas que estão afastadas das origens divinas
e não tem relação com ela, certamente a possibilidade de sucumbir ao mal cresce
em grandes proporções. Cabe a cada um, como sempre dizemos por aqui, fazer a
sua escolha entre qual lado viver e servir: ao bem ou ao mal; as consequências
virão a partir de uma vida vivida sob essa escolha (Apocalipse 22,12).
Fonte: Jefferson Roger
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