domingo, 19 de fevereiro de 2023

O bem e o mal


Pode até parecer contraditório, mas um dos gêneros cinematográficos que mais aborda a religião, seus dogmas e nuances é o terror. Seja na condução de exorcismos, enfrentamento a assombrações ou até mesmo para afastar criaturas sinistras, a crença em algo superior e benevolente entra em cena com seus crucifixos e água benta. Para o bem ou para o mal.

A maneira mais simples de entender essa relação que chega a ser codependente é lembrar que na maioria dos filmes (não apenas no terror) existe uma espécie de batalha do bem contra o mal. São os contrastes entre essas duas forças que desencadeiam toda uma série de eventos que deve culminar com a inevitável vitória do bem, certo? Bom, nem sempre. Se pararmos para pensar, a própria Bíblia traz a sua boa dose de terror para as escrituras. Várias passagens lidam com morte, castigos divinos e derramamento de sangue. Talvez seja uma das mais influentes coletâneas de contos de horror de todos os tempos.

Aliás, vários livros e filmes de terror se inspiraram em passagens específicas da Bíblia. Para a crucificação de Jesus Cristo, lembre-se da mãe de Carrie em Carrie, a Estranha. Para as vítimas tomadas pelo lago de sangue do Livro das Revelações (14:20), lembre-se da piscina de sangue em Abismo do Medo ou até mesmo a onda de sangue saindo dos elevadores em O Iluminado. Isso sem contar toda aquela história de Jesus se levantar do túmulo, tal qual os zumbis de A Noite dos Mortos-Vivos. O principal combustível para tantas produções que lidam com o cristianismo é justamente o medo perpetuado por suas igrejas ao longo dos séculos. Fiéis devem temer a Deus, negar o diabo e devotar sua vida à religião, senão o castigo será infernal e, pior ainda, eterno!

Pois bem, caro leitor, um olhar mais desatento pode cair na tentação de achar que é a igreja que ensina a ter medo de ser condenado ao inferno, enviado para lá por Deus, por não ter seguido seus preceitos e vivido conforme é do seu agrado. O pior é que é assim mesmo, não se trata de tentação e sim, de contestação. Deve-se partir do princípio que a palavra religião vem do latim “religare”, que significa religar-se a Deus. E obviamente, depois disso, manter-se ligado a ele e isso, por amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, pois, se a alma dá abertura para outras coisas que estão afastadas das origens divinas e não tem relação com ela, certamente a possibilidade de sucumbir ao mal cresce em grandes proporções. Cabe a cada um, como sempre dizemos por aqui, fazer a sua escolha entre qual lado viver e servir: ao bem ou ao mal; as consequências virão a partir de uma vida vivida sob essa escolha (Apocalipse 22,12).

Fonte: Jefferson Roger


 

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